Quando foi que comecei a mudar tanto assim? [Para maiores de 35]

Caminhar ao seu lado
é como um piquenique
de manhã bem cedo
o contato do seu corpo
é mais que um piquenique
é um banquete e tanto

Pra matar minha fome
de lenhador
saciar minha sêde
e aumentar o calor
tem de ser um lance legal
tem que ter um certo sabor
muita calma durante,
loucuras no final

Meu momento é agora
meu caminho é feliz
se há uma crise lá fora
não fui eu que fiz
então viver é um lance legal
tem que ter um certo sabor
muita calma durante
loucuras no final.

Lance Legal. Guilherme Arantes

Estava no carro e iniciou a tocar esta música aí ^. Eu ri. Ri demais. Coisa mais ridícula "ser um pirquenique de manhã bem cedo"; "ser um lance legal (...) muita calma durante, loucuras no final". Ouvi a música e me lembrei que Guilherme Arantes é um otimista de carteirinha. E mais que isso, me parece que esse otimismo dele não saiu bem da adolescência... Mas adoro, Guilherme Arantes, ainda assim, apesar do "Lance Legal".

A música me fez lembrar a velha questão na qual tenho martelado há muito tempo e que tenho notado que outros amigos, na faixa acima dos 35, martelam também: Onde ou quando foi que comecei a mudar tanto assim?

Para início de conversa, o que é esse "mudar tanto assim". É esse abandono do amor, de cara. Não acreditar mais nele. É passar a crer que tudo é efêmero: as amizades, o amor, o trabalho, a dor, a vida. Que tudo vem e passa, as vezes rápido demais até para que a gente tenha tempo de registrar na memória coisas que, em outras épocas, seriam muito importantes e que, hoje, nossa, a gente nem se dá conta de que aconteceram e já passaram.

O tempo está correndo? Coisa nenhuma! Nós estamos! Até estamos, mas não é isso. Não tem justificativa para como estamos nos portando diante da vida. As coisas simplesmente, hoje, não são como antes. Nós mudamos e não sabemos sequer como, onde e quando mudamos. Mudamos e não dá para voltar atrás nem um milimetro. E até que está bom assim, viu?

Ninguém está querendo "ser piquenique ou banquete" à beira do Lago Paranoá ou do Piscinão de Ramos... Vá lá, peguei pesado. Ninguém quer ser aquele casal apaixonado caminhando em câmera lenta à beira do mar de copacabana... Ou quer?

Mudamos. Caímos numa real dura e crua e nos adaptamos tão bem a ela (bem, eu me adaptei! rsrsr). Tem outsider, bêbado, misantropo, filósofo, psicanalista, escritor de blog (kkkk), mago (a maioria muito ruins), meditantes, leitores normais (será que quem lê, a vera, é normal?), por aí vai.

Tem gente no mundo, hoje em dia. Gente a real, saca? Sem máscaras, sem comportamento perfeitinho, mandando tudo à merda, ligando o novo e bom botão do "foda-se", e se lixando para a opinião alheia massacrante e para aquele tradicionalíssimo padrão passivo-agressivo de gente fraca e covarde que ainda não se ligou na fita.

Mas quando a gente se pergunta "Quando foi que comecei a mudar tanto assim?" tem um quê de susto nessa pergunta. Fica aquele sobressalto: Putz! Como fiquei tão duro? Tão sólido? Tão nem aí pra tudo? Será que isso é bom? Será que é normal? Será que sou só eu mudei assim?

Aí a gente olha para os lados e vê a mesma mediocridade e hipocrisia de sempre e pensa: putaqueopariu - fui só eu quem mudou nessa disgrama de mundo. Tem algo errado comigo. Até que a gente topa em outro sujeito que está se perguntando a mesma coisa e, enfim, suspiro de alívio: não sou só eu. Eu sou normal, o resto é que ainda tá naquela piração louca de querer ser padrão.

Eu recebi uma frase que diz assim "Eu sou diferente porque assim atrapalho os iguais". De início, até gostei. Mas hoje eu olho e dou gargalhada. Isso parece coisa de PNE. Política para PNE. Eu não sou diferente e se sou não é para atrapalhar os iguais. Putz, ia ser muito trabalho ser autêntica para simplesmente atrapalhar a vida de um cara padrão né? Que perda de tempo do ****! (Tentando não falar palavrões... aff que saco isso.)

Enfim, se a autenticidade me faz "diferente" do padrão é uma coisa meio óbvia né? Não teria como existirem duas Danieles autenticamente iguais. rsrsrsrs Piração essa. Ah, sei lá, não estou afim de desenhar com giz este post não saca?

O lance é o seguinte: alguns mudam, mudam pra valer mesmo e então se perguntam assim mesmo: Puta que pariu, quando foi que comecei a mudar tanto assim caralho?!

E se assustam com essa descoberta. Mas não estão querendo voltar atrás não. Claro, tem um quê de perda aí. Perdi a inocência, perdi a crença no amor, sei que a vida passa rápido, sei que as coisas são muito mais cruas e nuas do que já me disseram e que a vida é difícil pacas. Enfim, eu sei que viver é doloroso e que preciso ser forte pra cacete pra conseguir viver bem, mas, é daí? Eu to vivendo, de buenas. Sem os contos de fadas, sem a terapia, sem boa parte dos amigos que eu acreditava ter, contudo mantendo o prozac, a vodka e os livros clássicos. Ouvindo Badem Powell, simmmm, cantando Vinícius ainda, dançando Rock and roll até pirar e, ainda, recusando drogas.

Depois dos 35, #Fato, eu mudei, meus amigos (aqueles com os quais divido a piração de ser autentica em um mundo de máscaras) também mudaram, estamos mais sozinhos e mais felizes, mais pirados e mais centrados, mais inteligentes e menos leitores, mais pensadores e menos falantes. É a vida de quem se dispôs a viver de fato e não de passagem.

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