Turbilhão de Penas

No Perfect World os sacerdotes possuem algumas skills que seriam muito interessantes a nós, no mundo real. No próprio jogo, na relação com outros players, somos testados, avaliados, julgados, enfrentados e postos a prova de tal forma que ser “char”, e apenas isso, torna-se o objetivo inatingível do jogo. É mais uma lenda.

Existem identidades distintas, em jogos como o PW, que para muitos não são claras. Existe o “char”. Existe o “player” por trás do char. E existe, inevitavelmente, a “pessoa” por trás do player. Os cenários, também, são vários, e não um só, e se confudem. Há o cenário do jogo em si, as interfaces do jogo com a vida virtual, e as interfaces da vida virtual com a vida real. Três identidades e três cenários: nenhum deles pode ser delimitado e definido totalmente, principalmente, se se almejar uma definição excludente entre as três possibilidades de identidade e as três percepções do cenário.

Há quem acredite que, ao estar logado, assume “char” em um cenário virtual e não há qualquer interface possível com a virtualidade da vida ou com a vida real. “Player” e “Pessoa” não são possibilidades de identidade. “Virtualidade” e “Realidade” não se confundem e não se aplicam ao jogo. O jogo é apenas uma ferramenta tecnológica. As emoções envolvidas são apenas aquelas relacionadas à conclusão ou não de uma quest. Alcançar um nível a mais. Conquistar um objetivo tangível. Obter itens raros. Etc.

Não há, a meu ver, noção mais tosca do que essa. Explico: para obter resultados no jogo é preciso a colaboração de outros players e o mínimo de interação com eles. Ainda que mínima, esta interação exige o uso da “identidade do player” que, aqui, defino como a personalidade que a pessoa assume no jogo e a toma como real para aquele cenário. Esta “identidade do player” é construída pela “pessoa” e pode ou não corresponder à realidade da identidade “pessoa”. O “char” nada mais é do que uma das possibilidades de ser do player. Para um player, por exemplo, podem existir vários “chars” diferentes. O “player” pode, inclusive, utilizar-se deste ‘recurso’ para manter as realidades virtual, do jogo e real separadas.

É uma possibilidade de utilização e de visão do jogo, embora eu a classifique como “tosca”, esta é a opção mais segura para quem não quer misturar a vida e o jogo. CONTUDO, poucas são as pessoas (conheço apenas uma) que podem se enquadradas neste caso e muitas que acreditam utilizar o jogo desta maneira, porém estão mais profundamente ligadas a ele. Ou seja, se iludem.
Anote este ponto: a ilusão, neste tipo de jogo, é como o “envenenamento” de boss. Se não for dissipada, dependendo das circunstâncias, é fatal.

Há quem permita a interface entre o jogo e o virtual. Este é o segundo estágio. A pessoa possui uma identidade de player e uma identidade virtual coerentes e que permitem diálogo e aproximação apenas, porém, na realidade virtual. Utilizam, neste caso, recursos como TS, MSN, Skype, e-mail, Orkut, Facebook, Twitter (do char, do player ou da “identidade virtual” assumida pela pessoa na rede). Esta identidade virtual pode ou não ser condizente com a real.
Anote este ponto: cuidado! Estes players mantêm propositadamente a vida real protegida, mediante o uso de uma identidade virtual.

Terceiro estágio: interface do jogo com a virtualidade da vida. Neste estágio estão, pela minha observação, a grande maioria dos players. Antes de prosseguir, falando deste estágio, é preciso discernir vida virtual de virtualidade da vida.

Entendo por vida virtual a nossa conexão através da internet com outras pessoas, empresas, instituições, informações. Não há aqui um envolvimento profundo de quem eu sou com quem ou o que eu me comunico. Posso assumir uma identidade virtual e navegar pela rede, comunicando-me com outras pessoas, sem, contudo, me envolver pessoalmente com nada.

A virtualidade da vida corresponde à minha vida no universo virtual que, nada mais é, que um cenário intangível da minha vida. Intangível, em nenhum momento, se confunde com irreal, inexistente ou ilusório. É a vida real se processando dentro do universo virtual e com ele estabelecendo conexões que, muitas vezes, são ilimitadas. Há um envolvimento pessoal claro. A identidade “pessoa” está representada e acessível no virtual.

O player do terceiro estágio permite a interface do jogo com a virtualidade da vida. A sua identidade de player pode ser diversa do seu ser, de quem ele é: da pessoa. Mas para um círculo determinado por ele, a identidade “pessoa” se revela. Ele permite o acesso a sua “pessoa” por meio do TS, MSN, Skype, e-mail, Orkut, Facebook, Twitter, blog e ou telefone pessoal.

Anote este ponto: aqui se estabelecem relacionamentos reais. O grande perigo (ou a grande fuga) é não admitir que são reais.

Quarto estágio: interface do jogo com a virtualidade da vida e com a vida real. Poucos players estão aqui. Este estágio exige da “pessoa” uma disponibilidade, ou seria, uma coragem, uma propensão a correr riscos que pouquíssimas pessoas assumem (mesmo na vida real). Vou me restringir a delinear os casos das pessoas que autenticamente se revelam e permitem esta interface. [Pois existem também os casos (doentios) daqueles que permitem esta interação total, porém sem qualquer autenticidade. Eu me eximi em todo este post de comentar os casos “obscuros”, por opção. Seria um relato psiquiátrico (rsrsrs) para o qual não estou habilitada.]

Neste estágio, a identidade “pessoa” se sobrepõe à do player e à do char. A pessoa é no jogo o que é na vida. Um círculo restrito de players têm acesso à sua vida e os acontecimentos da vida são levados ao jogo. Existe uma membrana permeável entre ambos. O jogo pode ser um microcosmo em relação à vida real.

Anote este ponto: se estiver neste estágio, torça para ter um sacerdote com prece da vida nível 11 por perto ou SER um sacerdote, no mínimo, com turbilhão de penas, mar sem fim, rito do relâmpago, fúria dos céus, lâminas de penas, buffs e debuffs (todos GOD ou EVIL): você vai precisar!

Em todos os estágios, não dispense, no mínimo, a luz da iluminação de sua daimon e, se puder, consiga o terreno absoluto porque, acreditando ou não que real e virtual se misturam, em algum momento você vai precisar.

Agora, gogo upar, porque ler blog não dá XP. ;D