A Carta - Capítuo VI

Santos jamais saberia que sua presença naquela casa aquele dia era mais do que dispensável a todos. Entretanto, estivera fora, de manhã à noite alta. O que deu à Amparo e Dália tempo suficente para mergulharem no silêncio de uma dor comum, porém não compartilhada. Ambas fecharam-se em seus quartos, como se o mundo se resumisse àquela angústia concentrada na boca do estômgo e às lágrimas que escorriam silenciosamente, abrindo as vagas da dor.

D. Alzira, por sua vez, passou todo o dia às voltas com um imenso tacho de doce, mexendo-o sempre na mesma direção, como quem enrola seus pensamentos em volta de um mesmo ponto, tentando concentrar-se e perder-se nele.

Assim o dia passou, num silêncio gritante de amargura, insegurança e dor compartilhada pela casa que abrigava as três mulheres.

Quando Santos chegou, a casa dormia, bem como a dor de cada mulher. Ele nada percebeu. Estava feliz. A dívida no banco havia sido negociada. E nada mais lhe preocupava. Logo a cana seria colhida e os rendimentos lhe brilhariam os olhos novamente. No dia seguinte, seu único compromisso era visitar o pai do noivo e acertar com ele os detalhes da entrega da menina.

Dormiu na paz dourada dos lucros que havia garantido.

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