A Carta - Capítulo III

Seu coração estava demasiado apertado no fundo do peito. Quando entrou no quarto, o único movimento que conseguiu fazer, após trancar a porta, foi sentar-se na cama, encolhendo-se sobre o próprio colo, punhos apertados contra o peito, garganta seca, olhos secos, maxilar travado em um grito que se negava a sair. Balançava-se para frente e para trás, apertando-se cada vez mais contra si mesma. Consigo mesma. Até cair deitada, braços abertos, corpo jogado na cama, e uma lágrima que escorria no canto do olho direito. Seus lábios estavam úmidos e de repente aquela única lágrima transformou-se num rio de dor, correndo pelo seu leito, desbravando o desconhecido futuro.

Dália permaneceu assim por algum tempo, até secar, até cessarem suas forças e ser tomada pelo cansaço e pelo sono.

Em toda a casa nada se ouviu desta dor gritante.

Na varanda, Santos - o pai - amargava no charuto a decisão abrupta. Entregar ao banco todo o dote que receberia pela filha revoltava-lhe, mas não havia outra solução para salvar a fazenda. Certo disso, deixou de matutar o assunto e convocou Maria do Amparo ao quarto para recolherem-se. Algum prazer, naquele dia, ele merecia e ela haveria de lhe dar.

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