A Carta - Capítulo II

Recebi, hoje, carta do José Azevedo Souza. Dono da Fazenda que fica à margem esquerda do rio.
Pigarreou novamente. Esticou as costas na cadeira de espaldar alto. Postou as duas mãos sobre a mesa, olhando-as e medindo a distância exata entre elas. Olhou para mim e minha mãe, apenas levantando as sobrancelhas e continuou.
Fio mais velho dele precisa de noiva. Acertamos seu casamento para próxima primavera, menina Dália. Sua mãe vai arrumar o enxoval.
Respirou fundo. Juntou as mãos, entrelaçando os dedos. Bateu-as levemente na mesa, desfez o nó, apoiou as mãos na mesa. Levantou-se e foi para a varanda, fumar o charuto da noite.
Mamãe e eu ficamos. Sem olhar uma para a outra. Sem haver palavra. Sem ar.
O fio mais velho precisa de uma noiva?
Era este meu pensamento.
Levantei-me, pedindo licença, e fui me deitar.

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