A Carta - Capítulo I
Levantei-me com pesar. Debaixo das cobertas, imaginei que as flores do estampado eram os lábios do meu amado. Com o indicador e uma parcimônia sacramental, toquei as bordas daquelas pétalas, imaginando o contorno daqueles lábios. Sua textura e umidade, enquanto se abriam ao meu toque e deixavam escapar o doce hálito do desejo.
Do corredor ouvi D. Alzira gritar que papai já entrava pelo portão. Apressei-me, jogando longe a camisola de gorgurão e vestindo-me para o desjejum. Encontrei mamãe na cozinha, atarefada, como sempre, porém, com um olhar preocupado. Não me atrevi, é claro, a perguntar o que se passava. Sentei-me à mesa um átimo de segundo antes de papai. Mamãe sentou-se. Ele tomou seu lugar e pôs, ao lado direito, uma carta. Imediatamente, um frio trespassou todo meu corpo. Há dias sabíamos da chegada daquela carta.
Todo o desjejum se passou em silêncio. Papai retirou-se, levando a carta. Fechou-se em seu escritório, passando lá algumas horas. Mandou chamar apenas o capataz da fazenda. Recusou o café que D. Alzira levou. Mamãe, apenas lidava na cozinha. Nada falava.
Fiquei da cozinha para a sala e para o quarto e para o jardim. Quando, enfim, encontrei alguma paz, admirando, novamente, flores... e pensando em lábios... e bocas... e beijos apaixonados. E se tudo aquilo, se todo aquele amor com o qual eu sonhava não me fosse permitido?
Uma nuvem atrevida escondeu o sol e trouxe um vento gélido. Dia perverso aquele. Entrei. Papai havia chamado mamãe no escritório e os dois conversavam a portas fechadas.
À hora do almoço o mesmo ritual. Sentei-me à mesa. Mamãe sentou-se. Papai possuiu seu lugar. Almoçamos. Silêncio. Dispersamo-nos para nossos afazeres. Chegou a noite e o ritual da ceia.
Já estava cansada. Angustiada. Quando me dariam a notícia da carta? Quando eu saberia, enfim, o meu destino?
Recusei a sobremesa. Papai levantou os olhos para mim, como se não me reconhecesse. Mamãe o olhou, instigando-o. Ele suspirou e pigarreando, iniciou a falar.
Do corredor ouvi D. Alzira gritar que papai já entrava pelo portão. Apressei-me, jogando longe a camisola de gorgurão e vestindo-me para o desjejum. Encontrei mamãe na cozinha, atarefada, como sempre, porém, com um olhar preocupado. Não me atrevi, é claro, a perguntar o que se passava. Sentei-me à mesa um átimo de segundo antes de papai. Mamãe sentou-se. Ele tomou seu lugar e pôs, ao lado direito, uma carta. Imediatamente, um frio trespassou todo meu corpo. Há dias sabíamos da chegada daquela carta.
Todo o desjejum se passou em silêncio. Papai retirou-se, levando a carta. Fechou-se em seu escritório, passando lá algumas horas. Mandou chamar apenas o capataz da fazenda. Recusou o café que D. Alzira levou. Mamãe, apenas lidava na cozinha. Nada falava.
Fiquei da cozinha para a sala e para o quarto e para o jardim. Quando, enfim, encontrei alguma paz, admirando, novamente, flores... e pensando em lábios... e bocas... e beijos apaixonados. E se tudo aquilo, se todo aquele amor com o qual eu sonhava não me fosse permitido?
Uma nuvem atrevida escondeu o sol e trouxe um vento gélido. Dia perverso aquele. Entrei. Papai havia chamado mamãe no escritório e os dois conversavam a portas fechadas.
À hora do almoço o mesmo ritual. Sentei-me à mesa. Mamãe sentou-se. Papai possuiu seu lugar. Almoçamos. Silêncio. Dispersamo-nos para nossos afazeres. Chegou a noite e o ritual da ceia.
Já estava cansada. Angustiada. Quando me dariam a notícia da carta? Quando eu saberia, enfim, o meu destino?
Recusei a sobremesa. Papai levantou os olhos para mim, como se não me reconhecesse. Mamãe o olhou, instigando-o. Ele suspirou e pigarreando, iniciou a falar.
Comentários
Postar um comentário