Ciúme

É uma grande responsabilidade escrever o primeiro post do ano. Contudo, se eu esperasse pelo tema ideal, pela ideia original – nunca aconteceria. Parece-me, também, que falar das nossas emoções é sempre um tema e tanto!

Reparei que ainda não havia escrito e nem refletido, confesso, sobre um sentimento que me parece bastante comum entre nós: o ciúme. Talvez admitir que se sente ciúme é como admitir que se sente inveja. É feio. Mesmo quando dizemos que é uma “inveja boa”, “inveja branca”, ou “ciúme moderado” que “apenas” reaviva as relações. Talvez, por isso, eu tenha deixado este tema em paz. Porém, fui cutucada neste fim de ano e, agora, encaro o assunto, após muito refletir. Eis minhas conclusões.

Ciúme é como fogo.

Pode ser brando. Uma chama leve. Uma brasa quase morta que ao soprar de leve brisa se transforma. Esta transformação é imprevisível, assim como o fogo. Pode ser que apenas ilumine; esquente. Pode ser que queime. E pode ser que incendeie. Se incendiar, pode ser que seja apagado ou que se apague após consumir tudo o que encontrar pela frente. Deixando, por onde passa, o rastro de cinzas e destruição.

Não se deixa uma vela acesa em um cômodo onde não esteja ninguém que possa “vigiá-la”. Fósforos não ficam ao alcance de crianças. Evitamos deixar próximo da casa – nosso abrigo – os materiais inflamáveis. Sinalizamos tudo que possa ser causa de explosão. Mas somos levianos em relação ao ciúme.

Nós não o vemos. É como o gás da cozinha que se espalha pela casa em um descuido e quando damos pela sua presença, é tarde demais para abrir janelas e portas. Basta acendermos uma pequena chama, uma lâmpada, ou mesmo provocarmos uma faísca que nem vemos e tudo vai pelos ares.
Dentro da gente, o ciúme é uma combinação invisível, no início, de emoções que vamos reunindo aqui e ali e que, em um determinado momento, se ligam a um fato insignificante – o catalisador – e boommm! Já era.

Depois, ficamos perplexos diante do cenário de destruição, como os cientistas ficam diante dos grandes desastres naturais que não conseguiram prever, nos perguntando: como aconteceu?
Porém, a resposta para esta pergunta não evitará novos desastres e nem reconstruirá o que foi destruído. Muitas vezes, também não nos traz aquela paz que buscamos para nossa consciência diante do “inexplicável”, do “inevitável”, da “fatalidade”.


É assim que encaramos essas explosões de ciúme – tal qual desastres naturais.
Eu me pergunto, no entanto, se isso é natural, se pode ser evitado, se é saudável. Ciúme pode ser comedido? Será mesmo que pode, como dizem alguns? Particularmente, não creio. E não vou entrar “numas” teorias zen de desapego, pois me parecem apenas subterfúgios para não encarar o óbvio: somos tão humanos, tão profundamente humanos, apesar de nossa essência divina, da mente e de tudo o mais que possuamos de abstrato, oculto e inexplicável, que reagimos tal qual a natureza: muitas vezes, de forma imprevisível, inevitável e fatal.

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