Vento no litoral

"E quando vejo o mar existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem..."

Vento no litoral, Legião Urbana.


Vivemos para o impulso criativo. E encontramos formas diversas de criação. Na arte isso é mais fácil de ser visto. Mas o trabalho diário também é criação, assim como os relacionamentos e o próprio amor.

Assim, quando um relacionamento, trabalho ou projeto se inicia, planos são sonhados e um planejamento é estruturado. Passamos a viver em prol da execução daquele planejamento que é, em si, a concretização do impulso criativo: o que nos realizará como pessoas, homens, mulheres, profissionais, amigos, mães, pais, filhos, irmãos, esposas, maridos... enfim, nos diversos papeis que exercemos.

Se de repente, não mais que de repente, como diria Vinícius de Moraes, ou pau-la-ti-na-men-te, o planejamento torna-se inútil: o impulso criativo cessa e não é mais possível chegar à realização plena de si mesmo. Não importa o outro. A verdade é bem esta. Pouco importa o outro. Foi o SEU planejamento, foram os SEUS sonhos, foi o SEU impulso criativo, foi a SUA realização que se tornou inútil e impossível. O outro só aparece nessa história como coadjuvante: co-responsável pelo fracasso, objeto da raiva, da mágoa ou seja lá de que sentimento a frustação possa gerar.

Frustração é um sentimento ardiloso. Coloca nossa mente a trabalhar de forma irracional, passando-se por racional. Todas as razões e os argumentos estão muito bem dispostos para justificar ações que não nos farão bem, mas que alimentarão a frustação e distanciarão o nosso olhar do que realmente importa: o profundo de nós mesmos. O lugar onde está a origem de tudo, a origem do impulso criativo.

Nesse processo irracional é possível adoecer e morrer, literalmente, morrer. Exceto se nos apercebermos de que o impulso criativo está aí para tudo e que poderá continuar nos impulsionando a viver e a nos realizarmos de outras formas.

Entretanto, algo é necessário ser feito. Nem tudo é tão simples. Não basta recorrer a esta fonte interna de re-criação de si mesmo e do mundo. Antes, é preciso desfazer-se dos planejamentos inúteis, da frustração e de tudo que ela engendra: medos, inseguranças, temores, doenças.

Por isso, o vento no litoral... e as ondas a baterem em nós, levando tudo embora. "Já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim". Afinal, "o plano era ficarmos bem".

Renato Russo sempre soube o que dizer...

Comentários

  1. Qualquer coisa que nos liberta nos associa aos planos de Deus, nos conduz a uma situação que "nesse processo irracional é possível adoecer e morrer". Lindo o que você escreve. Crie mais, faça mais pessoas felizes e se permita ser também. Luz e paz, Orlando

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