Costura ou cola?
O sol estava a pino em Brasília. A Esplanada dos Ministérios brilhava aos raios do sol, enquanto milhares de servidores públicos trabalhavam exaustivamente nas questões nacionais. De repente, não mais que de repente, ouve-se um ruído estrondoso vindo do Palácio do Planalto. Logo se tem a informação que um tremor de terra rasgou a Praça dos Três Poderes, separando, definitivamente, os Três Poderes. O assombro era geral. A perplexidade podia ser vista nos rostos dos transeuntes habituais e turistas acidentais que por ali passavam. Mas o grande temor vinha do restante da Esplanada. Terceirizados puseram-se a correr, imediatamente, já sabendo que nada resguardaria suas vidas: não eram servidores. Servidores apinhavam-se nas janelas dos ministérios, agarravam-se aos pilares, mesas, moitas e assuntos, como quem descobre o último colete salva-vidas.
A rachadura na Praça parecia ter estacionado em um grande sorriso diante do Itamaraty. Lá embaixadores de todas as nações oravam, rezavam, pediam, segundo seus credos, que o tremor não alcançasse suas pátrias. Nem reza, nem mandinga, nem terço, nem galinha preta impediram que a cratera se alargasse e fosse em direção aos ministérios. Estrategicamente, dividiu o 28 e a Câmara ao meio e, bifurcando-se foi em direção aos dois corredores de prédios ministeriais.
Todo tipo de ação e estratégia foi pensada e executada pelos ministros e suas equipes super técnicas (neste momento, os políticos já estavam na periferia, angariando votos com a promessa de reconstruir a Nação...). Contudo, nada era capaz de impedir o avanço daquela força sobrenatural. Foi então que os ministros se lembram do Ministério das Ciências Ocultas e Letras Apagadas e, apavorados e esperançosos, recorreram ao Ministro, buscando uma solução para o fim-do-mundo. Certamente, apenas aquele Ministério poderia salvar a todos do desastre iminente.
Cheio de orgulho e sentimento patriótico, o Ministro convocou a Divisão de Obras e Engenharia. A esta altura, a rachadura já havia dividido o próprio Ministério ao meio: lado A e lado B. Na Sala de Situação, todos reunidos, semblantes sisudos, pensadores em posição, deu-se início à reunião que, neste momento, recebeu outro nome (pois se diz por aí que de reuniões não sai nada...). O Ministro, do alto de seu cargo, explicou a situação, utilizando-se de muitos adjetivos e exigiu providências cheias de advérbios:
- O Ministério foi rasgado ao meio, bem como toda a Esplanada. Urge que tomemos uma providência rapidamente para impedir o desastre total e acalmar a população.
Dada a palavra ao chefe da divisão, ele disse, em tom grave e sério:
- Senhor Ministro, se o Ministério rasgou-se, bem como toda a Esplanada, eu nada posso fazer, pois não sou costureiro!
A equipe da divisão, demonstrando grande união e integração, passou a tergiversar sobre o problema, liderado por um bravo e inteligente membro - João de Barros. Este disse:
- Tenho a certeza de que o fenômeno foi provocado por um Golpe de Ariete! Basta aumentarmos a bitola do cano e a paz será restabelecida!
Melandro, companheiro de equipe e de katiassa, concordou, sorrindo, admirando a sabedoria do colega que, tão rapidamente, já havia resolvido o caso. A engenheira da divisão, Kátiaflávia, concordou e deu explicações detalhadas sobre o fenômeno, relembrando seus tempos de caloura na faculdade. Divina Ana, muito quieta e atenta, acompanhava o debate acalorado e seus olhinhos ficavam como que acompanhando a bolinha do ping-pong.
Eis que chega, então, o encarregado da Empresa π - Sr. Fartodaqui. Muito apressado e afobado, embora atrasado, profere o seu pitaco:
- Eu tenho a solução! Nós já iniciamos o trabalho! Meu pessoal está passando cola quente na rachadura e em breve toda a Esplanada estará colada novamente. O único desconforto é que os elevadores ficarão parados por quatro dias, até que meus funcionários retirem a cola das portas, pois antes de colar a rachadura, decidiram colar as portas dos elevadores. Vocês sabem: muita eficiência e sob pressão, agimos tão rápido que nem nos damos conta do que estamos fazendo...
Alguns dias depois, tudo estava normalizado. A cola quente, de secagem imediata, unira toda a Esplanada novamente, inclusive, os Três Poderes (coisa impensável, até então) e dera um ar "rústico sofisticado" ao palco das grandes decisões nacionais.
Show essa crônica Dani...
ResponderExcluirEstou rindo até agora. Não sou costureiro!!!
kkkkkkkkkk