Visitando o profundo...
"A história da literatura nao deveria ser a história dos autores e dos acidentes de sua carreira ou da carreira de suas obras, mas a História do Espírito como produtor ou consumidor de literatura. Essa história poderia ser levada até o fim sem mencionar um só escritor." (Valéry via Borges)
OLMO
Sylvia Plath
Sei o que há no fundo, ela diz. Conheço com minha própria raiz.
Era o que você temia.
Eu não: já estive lá.
É o mar que você ouve em mim.
Suas frustrações?
Ou a voz do nada, essa é sua loucura?
O amor é uma sombra.
Como você chora e mente por ele.
Ouça: estes são seus cascos: fugiram, como cavalos.
Vou galopar a noite inteira assim, impetuosa,
Até que sua cabeça vire pedra, se travesseiro vire turfa,
Ecoando, ecoando.
Ou devo te trazer o borbulhar de poções?
Isso agora é chuva, esse silêncio imenso.
E este é seu fruto: branco-metálico, como arsênico.
Sofri a atrocidade dos poentes.
Queimada até as raízes.
Meus filamentos ardem e ficam, emaranhados de arames.
Meus estilhaços se espalham em centelhas.
Um vento violento assim.
Não suporta obstáculos: preciso gritar.
A lua, também, não tem pena de mim: me engole.
Cruel e estéril.
Seus raios me arruínam. Ou quem sabe a peguei.
Eu a deixo ir, ir.
Magra e minguante, como depois de uma cirugia radical.
Seus pesadelos me enfeitam e me possuem.
Dentro de mim mora um grito.
De noite ele sai com suas garras, à caça.
De algo para amar.
Sou aterrorizada por essa coisa negra.
Que dorme em mim;
O dia inteiro sinto seu roçar leve e macio, sua maldade.
Nuvens passam e se dispersam.
São estas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis?
Foi pra isso que agitei meu coração?
Sou incapaz de mais compreensão.
E o que é isso agora, essa face
Assassina em seus galhos sufocantes? -
O beijo traiçoeiro da serpente.
Petrifica o desejo. Esses são os erros, solitários e lentos,
Que matam, matam, matam.
PLATH, Sylvia. Poemas. Trad. Rodrigo Garcia Lopes, Maurício Arruda Mendonças. 2. ed. São Paulo: Iluminuras, 2005.
OLMO
Sylvia Plath
Sei o que há no fundo, ela diz. Conheço com minha própria raiz.
Era o que você temia.
Eu não: já estive lá.
É o mar que você ouve em mim.
Suas frustrações?
Ou a voz do nada, essa é sua loucura?
O amor é uma sombra.
Como você chora e mente por ele.
Ouça: estes são seus cascos: fugiram, como cavalos.
Vou galopar a noite inteira assim, impetuosa,
Até que sua cabeça vire pedra, se travesseiro vire turfa,
Ecoando, ecoando.
Ou devo te trazer o borbulhar de poções?
Isso agora é chuva, esse silêncio imenso.
E este é seu fruto: branco-metálico, como arsênico.
Sofri a atrocidade dos poentes.
Queimada até as raízes.
Meus filamentos ardem e ficam, emaranhados de arames.
Meus estilhaços se espalham em centelhas.
Um vento violento assim.
Não suporta obstáculos: preciso gritar.
A lua, também, não tem pena de mim: me engole.
Cruel e estéril.
Seus raios me arruínam. Ou quem sabe a peguei.
Eu a deixo ir, ir.
Magra e minguante, como depois de uma cirugia radical.
Seus pesadelos me enfeitam e me possuem.
Dentro de mim mora um grito.
De noite ele sai com suas garras, à caça.
De algo para amar.
Sou aterrorizada por essa coisa negra.
Que dorme em mim;
O dia inteiro sinto seu roçar leve e macio, sua maldade.
Nuvens passam e se dispersam.
São estas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis?
Foi pra isso que agitei meu coração?
Sou incapaz de mais compreensão.
E o que é isso agora, essa face
Assassina em seus galhos sufocantes? -
O beijo traiçoeiro da serpente.
Petrifica o desejo. Esses são os erros, solitários e lentos,
Que matam, matam, matam.
PLATH, Sylvia. Poemas. Trad. Rodrigo Garcia Lopes, Maurício Arruda Mendonças. 2. ed. São Paulo: Iluminuras, 2005.
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