Dois amigos

Amor,

Hoje, eu encontrei um velho amigo nosso. Certamente, você ainda se lembra dele. Talvez, todos os dias...como eu. Embora ele esteja sempre presente, não o reconheci facilmente. Quando entrei naquela casa... sabe?... aquela casa onde nós o conhecemos e reconhecemos sempre, eu logo o vi. Mas a poeira do tempo parece ter turvado a minha visão, pois demorei a reconhecê-lo. E quando tive a certeza de que era ele: tremi. Não pensei que o veria novamente; assim, tão próximo, tão real.

Os dias que passei naquela casa foram difíceis. Eu o evitava, mas ele estava em toda parte, lembrando-me cada gesto, palavra, carícia, segredo. Primeiro, eu senti raiva por ele me obrigar a relembrar todos aqueles momentos. Depois, senti medo de não conseguir mais esquecer aquelas lembranças. Por fim, eu me senti profundamente triste... por serem só lembranças.

Agora, não estou mais naquela casa. Nosso amigo já não está tão próximo. No entanto, o efeito do reencontro com ele perdura em mim. Sabe... não quero que você fique triste ou magoado... mas eu não quero mais ser amiga do Passado. As razões são óbvias e detalhá-las seria como multiplicar clichês... Eu sei que você já não se apega muito ao Passado, como eu. Mas também sei que você não desiste de conservar esse amigo.
Será que essa amizade vale a pena? Eu venho tentando convencer você de que o Futuro é mais interessante. Contudo, sinto que minhas tentativas não alcançam êxito algum. O que te impede de acreditar que o Futuro pode ser melhor? O que te impede de crer que ainda há um Futuro para nós?

Quando encontrei o Passado, tudo me pareceu difícil, doloroso, perdido. Mas depois, quando eu consegui encará-lo, eu notei um reflexo cheio de esperança projetado no Futuro. É! Esse Futuro que eu venho tentando apresentar a você!

Eu reafirmo que não quero mais amizade com o Passado, embora eu não queira perdê-lo de vista, pois muitas das minhas referências vêm dele. O que eu quero, agora, é conhecer o Futuro... com você. Resta saber se você ainda crê que ele possa existir.

Amor