Desmistificando o ato de escrever

Todos nós, em maior ou menor grau, desenvolvemos algum bloqueio que torna mais difícil e até penoso o ato de escrever. Esse bloqueio funda-se em falsas crenças que assimilamos durante a vida, principalmente, na fase escolar. Somos levados a crer que escrever é um talento que poucas pessoas têm, um ato espontâneo que não exige empenho, uma questão que se resolve com algumas dicas, um ato isolado desligado da leitura ou algo desnecessário no mundo moderno. Será que é mesmo assim?

Há um dito popular que caracteriza bem o valor da escrita para a nossa existência: “Vale o que está escrito!” Para existir, ser, atuar e possuir precisamos de documentos escritos, tais como certidões, certificados, diplomas, atestados, declarações, contratos, escrituras, registros, recibos, relatórios, cartas, comunicados etc. Por isso, desde pequeninos, somos treinados a colocar no papel nossos pensamentos, sentimentos e ações. Essa experiência pode começar com o diário pessoal, a redação escolar, o e-mail ou a carta. Contudo, se a escrita é tão importante e somos treinados desde cedo, por que é tão difícil escrever?

Em uma conversa informal somos naturalmente capazes de comunicar nossos pensamentos, sentimentos e ações. Apoiamo-nos no contexto, temos a colaboração do ouvinte, recebemos feedback através das expressões faciais e podemos retomar um ponto que não ficou claro ou foi mal exposto. No texto escrito, no entanto, a comunicação dá-se a distância, por isso precisamos adaptar a nossa linguagem ao contexto e ao gênero textual, e garantir a clareza, a coesão e a coerência para que a mensagem seja entendida exatamente como desejamos no momento da redação. Ou seja, a língua falada e a língua escrita têm diferentes estruturas de funcionamento e, para sermos entendidos em diferentes contextos comunicativos, precisamos aprender a trabalhar a linguagem em suas diversas possibilidades.

As dificuldades surgem quando nós não conseguimos identificar a forma mais adequada de comunicar alguma coisa em um determinado contexto. Isso acontece porque não reconhecemos que leitura e escrita são práticas que se completam. É pela leitura que reconhecemos e assimilamos as estruturas da língua escrita e é pela escrita que reorganizamos o nosso conhecimento, nossas reflexões, enfim, o nosso universo interior. Dificilmente, um bom leitor produz um mau redator e vice-versa.

Escrever é um percurso – extremamente pessoal, embora motivado por práticas sociais – que exige prática, reflexão e leitura. Não é, portanto, um dom, muito menos um ato espontâneo. É uma competência que pode ser desenvolvida e que depende, em grande parte, de motivação íntima e da adoção de novas atitudes em relação à escrita, tais como, escrever todos os dias, acreditar que se está melhorando, deixar o comodismo de lado e se esforçar, considerar a escrita como uma habilidade importante para o sucesso profissional, reconhecer que por meio dela participamos ativamente do mundo, ler muito, ler bem e ler melhor a cada dia.

Para saber mais sobre as relações entre leitura e escrita, leia:
GARCEZ, Lucília. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Comentários

  1. Essa postagem realmente está exclente, me ajudou bastante na elaboração de uma resenha justamente sobre o livro técnica de redação... A autora, Lucília Garcez é uma expert no que diz respeito a escrita e este livro é de grande auxílio para todos que lidamos com a escrita.

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